sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Tubarão

Eu tinha uns dez anos ou pouco mais do que isso. E a censura era 14 ou sei lá quanto. Sei que não se falava de outro filme na cidade e todo mundo já tinha ido assistir. Todo mundo vírgula, eu ainda não!!! E não sei se era devido a importância que aquele filme tomou, não sei se porque naquele tempo ainda se respeitava alguma coisa, sei que entrar no cinema sem ter a idade certa estava difícil. Mas... a vontade era muita e a cara de pau maior ainda. Sei que eu, meu irmão e sei lá quem mais resolvemos tentar. Escolhemos um cinema de bairro, menorzinho, fiz uma maquiagem caprichada ( digamos caprichada demais!!!), coloquei uma roupa mais adulta e fui no carão, achando que minha altura me garantiria. Engano!!! Nem da roleta da entrada passei. Barrada pelo bilheteiro nem pude argumentar. De volta prá casa, maquiagem borrada pelas lágrimas só me restou esperar alguns anos pra ver na televisão que não tinha perdido nada. O filme era uma tosqueira!!!

domingo, 15 de novembro de 2009

Comemoração do vestibular

Quando eu passei no vestibular, Heloisa, minha melhor amiga também passou no mesmo curso que eu. Na minha casa não teve muita comemoração, apenas um abraço dos meus pais. E eu e ela fomos dar a notícia para os pais dela no sítio deles. Era julho, um frio danado e chegando lá foi a maior festa. Estouraram champagne, nos carregaram e...nos jogaram na piscina de roupa e tudo. Eu sem roupa para trocar, aquele frio cão e os bicos dos seios totalmente arrepiados e nada de voltarem ao normal. Uma dor que até hoje não esqueço!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Grampo telefônico

Eu namorava com um, mas tava de olho no outro. E aí que o outro telefonou e eu marquei de sair com ele à tarde, no horário em que eu iria para a aula de dança. E combinei que ele me pegasse na escola de dança. E fui me aprontar toda. Na hora de sair meu pai perguntou onde eu tava indo e com quem ia me encontrar. Menti dizendo que ia pra aula e que depois o namorado ia me buscar. Então ele falou que tinha escutado na extensão e que a voz não era do namorado. Insisti que era e ele disse que então iria me acompanhar. Pânico total. O jeito foi ligar para o namorado e contar a verdade e pedir pelo amor de Deus que ele me livrasse dessa. E ele foi...
A espionagem corria solta na minha adolescência e olha que nem existia o PT ainda...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Roberto Marinho

Quando era pequeno meu filho sempre falava que era outra pessoa. Ora era o Scooby doo, ora era o Matracatrica, ora era o Airton Senna e por aí vai.. E então que a tia do meu marido ligou do Rio de Janeiro para minha casa e ele atendeu:
-Alô, quem fala?
-Aqui é o Roberto Marinho.
-Desculpa, foi engano.
Desligou e ficou mais de uma hora pensando que ela conhecia um Roberto Marinho, só não sabia de onde...


*Roberto Marinho era o dono da Rede Globo e o Zé ouvia sempre na televisão falar da Fundação Roberto Marinho.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Primeiro sutiã

Eu tinha uns dez anos quando ganhei meu primeiro sutiã. Ia para a aula toda toda porque era uma das primeiras meninas a ter um(naquele tempo não tinha essa de sutiã para criança e até para "menina-moça" não era fácil achar). E como quase ninguém prestava atenção nele, passava a aula toda a puxá-lo, a abaixar a gola até o ombro, a estalar as alças numa tentativa desesperada de fazer notar que eu já era "moça". Fui invejada pelas meninas, admirada pelos meninos e nem notada pela professora. Pobre de mim...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Flagra

Aproveitando que os meninos, ainda pequenos, tinham dado uma folguinha, eu e o marido fomos namorar um pouquinho. Fechamos a porta e no meio do rala e rola escuto uma batidinha leve na porta. Paralisados!!! Mais uma batidinha... o marido fala no meu ouvido prá não fazer barulho, que iam achar que estávamos dormindo. Mais um tempinho e escuto ela aos berros, gritando com a voz mais safada do mundo: - O que ocês dois tão fazendo aí, hein??? Abre logo!!! Tão namorando? Tão fazendo o que??? Achei melhor deixar para depois antes que toda a vizinhança tomasse conhecimento das intimidades do casal...

sábado, 10 de outubro de 2009

Dentadura bonita

Quando eu fiz 18 anos e me formei no ensino médio, ganhei de presente do meu avô uma passagem de avião para conhecer Camburiú. Na verdade, meu avô estava indo com minha mãe visitar a sobrinha que morava lá e me incluiu no pacote. Era minha primeira viagem de avião e nem pensei na roubada que era. Depois de mim, a pessoa mais nova da casa em que ficamos era minha mãe! Mas, voar era o que importava... Chegando lá, o marido da prima, um senhor já velhinho e meio alemãozão, na hora do almoço elogiou minha dentadura:
- Repara Geninha, a dentadura dessa menina é uma beleza!
Envergonhada expliquei para ele que eu não usava dentadura, que os dentes ainda eram meus mesmo. Que meu pai era dentista e fazia dentaduras, mas que eu ainda conservava os meus inteirinhos. Ele então riu bem alto e explicou que ele estava querendo dizer que minha arcada era certinha e que eu tinha o sorriso bonito. Gargalhada geral na mesa dos velhinhos e eu torcendo para a arcada artificial de cada um deles esparramar em cima do prato!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Prancha antiga

Quando eu estava para nascer, uma prima do meu pai, bem jovenzinha ainda, veio ajudar minha mãe com a neném que ia nascer e nunca mais quis ir embora. Encantou-se com a cidade grande e suas infinitas possibilidades. Assim, Ailza passou a ser minha irmã de criação. Morou por mais de quinze anos com a gente e só foi embora depois que se casou. Lembro de descer à noite para o quarto da empregada e assistir horrorizada Ailza colocar os longos cabelos na tábua e passar o ferro morno neles. Tinha pavor que ela queimasse a cabeça e ficasse careca. O mesmo pavor que me acompanha ainda hoje quando eu vejo no salão alguém passando chapinha nos cabelos...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Primavera de 87

Ele veio ao mundo no mesmo dia que a Primavera chegava. Veio forte, gritando que estava ali, mas logo silenciou ao ser colocado entre os meus seios. E aquele primeiro contato acabou de selar o que já tinha acontecido entre nós por aqueles nove meses, um amor incondicional maior do mundo. O pai então se deu conta que aquilo que crescia na barriga da mulher era de verdade e entre o susto e a emoção não parava de chorar. Correu a mostrar para toda a platéia que esperava do lado de fora sua obra-prima. Deixou assustada toda a equipe médica por sair assim da sala com o bebezinho, ainda sujo de sangue e enroladinho. Mas era urgente gritar ao mundo a sua chegada...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Bonequinha de música

Meu olho cumprido estava fixado na caixa de presente que meu pai trazia nas mãos. Eu jurava que o presente era pra mim. E pedi, tornei a pedir, implorei, fiz manha, enchi o saco. E ele falou assim que ia me mostrar, mas que o presente não seria para mim. Quando abriu a caixa vi a coisa mais linda que uma menininha poderia ver. Uma boneca delicada, de olhinhos puxadinhos, com um cabelo de seda preso numa finíssima e transparente rendinha, com um boca pintada de vermelho. A bonequinha estava sentada de pernas cruzadas num banquinho e debaixo desse banquinho tinha uma chave que girava e começava a tocar uma música linda. Entrei em êxtase e só queria o presente para mim. Ele falou que não era para mim, que como eu tinha estragado a surpresa o presente seria para minha mãe. Eu não acreditei mas na noite de natal vi o presente sendo entregue para ela e por um momento sei que morri. E continuei a morrer todas as vezes que abria o armário, naquela parte lá de cima onde se colocam coisas para serem esquecidas e via a caixa da bonequinha com ela dentro. Minha mãe não gostou do "meu" presente...

sábado, 12 de setembro de 2009

Abra-te!!!

O pai passava e falava para a porta automática:
-Abre-te, Sésamo!
E a porta se abria...
A mãe vinha atrás:
-Abra-te, Sésamo!
E a porta se abria...
E o irmão mais velho também:
-Abra-te, Sésamo!
E a porta se abria...
E a pequenininha, do alto dos seus três aninhos, não podia ficar atrás:
-Abra-te, TIO SÉRGIO!
...
Do outro lado da porta os outros integrantes da pequena família se arrebentavam de tanto rir.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Alado

Eu lembro de olhar pela janela e ter a nítida sensação de que cresciam asas em mim. Eu sentia elas crescerem e se eu olhasse de rabo de olho por cima dos ombros poderia até vê-las. Eu lembro que a vontade de sair dali era tão grande que eu me vi voando, vendo tudo por cima. No rosto , lágrimas. No coração um sentimento de impotência muito grande. Mas apesar de ter o corpo preso, eu senti de alguma forma que eu não estava ali mais. E voei...por alguns instantes eu tive esse sentimento único. Desde esse dia minhas asas tem me acompanhado. A vontade de voar só tem aumentado. E nem tanto tempo faz...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Médica de plantas

Era um jardim de muitas flores, de muitas plantas. Dois jardinzinhos separados pela rampa que dava acesso a varanda. Tinha roseiras, a grama verdinha e numa banheira redonda com pés de jacaré (meu avô aproveitava todo lugar para plantar) reinava um cactos de vários caules finos e espinhos nas pontinhas. Era um cactos diferente de outros que não trago boas lembranças. Esses era só passar perto que a roupa e a pele se enchia de espinhos. Esse não...os espinhos ficavam lá na deles. Mas esse cactos quando cortado esguichava um leite brando, uma resina. Então a brincadeira escondida do avô e de todo mundo era cortar o cactos e brincar de médica. Fazia de conta que ele tinha se machucado, que o leite era sangue e limpava com água, fazia curativos com pano, fazia incisões profundas. Arrancava os espinhos que eram cacos de vidro de algum acidente. Eu era uma médica competente, nunca deixei morrer o paciente. Apenas o deixava mutilado, mas livre de suas "doenças". Depois limpava tudo, tratava de esconder os pedaços cortados e quando o avô perguntava quem tinha feito aquilo com o cactos fazia cara de paisagem. Tão boa essa menina ...A banheira parecia com essa, só que era preta por fora e branca por dentro.

domingo, 30 de agosto de 2009

Tia Diva

Ontem morreu minha tia Diva, irmã do meu pai. Era a irmã mais velha, que se casou velha e não teve filhos. Era seca, dura e feia. Muito feia. Tinha uns dentes grandes e quando pequena eu tinha medo dela e do marido, Tio Zé, que era totalmente careca. Não tenho boas lembranças dessa tia, aliás quase não tenho lembranças. Sei que ia por obrigação nos encontros familiares e ia embora muito cedo. Passava como um furacão. Não cultivou o amor dos sobrinhos e morreu sozinha, quase não tinha ninguém no seu velório. Quando eu era bem pequena acho que tinha uns almoços em sua casa (talvez tenha sido só um) e o marido dela era fotógrafo e tirava umas fotos da gente. Acho que tinha um apartamento em Guarapari e sei que quando estávamos em Setiba, fomos lá. Uma vez também fui com meu pai na casa dela, eu fiquei arrancando uma pedrinhas do muro e mais não lembro. Não lembro de receber nenhum presente dela, nenhum carinho, nenhum telefonema. No meu casamento não foi. Mandou dizer que tinha sido convidada para um outro casamento antes.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Miguel Bournier

Minha irmã de criação tinha mãe e pai. Que eram tios do meu pai. Então minha irmã de criação era na verdade minha prima. E quando eu era pequena os pais dela moravam numa cidadezica chamada Miguel Bournier. A cidade era tão pequena que só tinha mesmo duas ruas e uma estação de trem. No alto tinha uma igrejinha e uma farmácia. Perto da linha de trem tinha uns dois bares e só. Mas eu gostava de ir prá lá, era uma vida tão diferente. Eu acordava cedo e tomava leite com pão torrado no fogão a lenha. O pão era de pacote, sovado porque lá não tinha padaria. Pão sovado pra mim era uma novidade, e eu achava que só lá é que tinha. O almoço era às 10:30 da manhã. Depois tinha um outro café no meio da tarde tarde e 17:00 era a janta. Tudo feito no fogão a lenha, um gosto bom que eu não me esqueço. A tia fazendo todas as vontades... A casa velha, chão de tábuas que rangiam. As camas de madeira, colchão de palha. O banho na banheira que de tão velha tinha o esmalte já preto no fundo. E o banho era de cuia, eu achava aquilo o máximo. De manhã cedinho eu saia com uma menina vizinha para catar moranguinhos silvestres no mato. E depois a gente fugia escondido para a linha de trem para ficar andando nos trilhos. Era proibido!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Puxa-puxa

Pro calor que fazia em Governador Valadares o mais certo é que o vendedor de picolés fosse o preferido da turma. Mas não era bem assim...Quem fazia sucesso mesmo era o vendedor de pirulitos puxa-puxa que se fazia anunciar por uma buzina insistente e escandalosa. Eu e minha prima Jack assim que escutávamos o barulho, corríamos a assaltar a primeira bolsa que víssemos pela frente. Só algumas moedinhas...O gosto em si não era pelo pirulito, apenas uma massa de açúcar queimado que grudava nos dentes e que quando puxado fazia um fio enorme que melava tudo, mas sim por poder tocar a buzina sem parar. E íamos atrás do vendedor por uma dezena de quarteirões "auxiliando"o pobre coitado na sua labuta.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Pequeno pônei

O cavalinho foi um presente do avô para os netos, que nunca mediu esforços para fazer a meninada feliz. E como eram todos ainda muito pequenos optou por um pônei pequenininho, recomendado pelo dono por ser muito manso. Foi uma festa quando ele chegou, os meninos todos querendo montar e também passear na charretinha que veio com ele. Até a bisavó cismou em dar uma voltinha no lombo dele. A alegria durou pouco... Já na segunda semana ele não se mostrou tão manso assim. Na terceira mandou pro chão quem se atreveu a montar nele e ainda distribuiu uns bons coices. Chamaram o "primo Oscar", com fama de domador para amansar o bicho...nada. Não sei que fim tomou o bichinho, um dia chegamos no sítio e não vi nem o cavalinho, nem a charretinha. Os meninos nem ligaram, acho até que ficaram aliviados por se verem livres do cavalinho doido.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Motoqueiros

Porque meu pai falava que se me pegasse em cima de uma moto, quebrava a moto, o motoqueiro e eu. Então durante minha adolescência revoltada esse era o item básico para ser meu namorado...TER UMA MOTO!!! Quando eu conhecia um carinha novo nem perguntava primeiro pelo nome e sim se tinha moto. E os que eu conhecia e que já tinham uma moto figuravam sempre como primeiros na lista. Freud explica!!!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Carinhoso

Foi a primeira novela que eu lembro de ter assistido. Foi o primeiro disco de "adulto" que eu ganhei. E foi também a minha primeira paixão impossível por um artista de novela. Muitos outros vieram depois, mas Marcos Paulo foi o primeiro. Já não lembro da estória nem do papel dele na novela. Mas ficou a lembrança da paixonite por ele naquela época. Quando ia dormir e o sono não vinha, ficava imaginando que ele era meu namorado. E eu só tinha 8 anos...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Bombom Garoto


Naquele tempo ganhar uma caixa de bombom Garoto era o must!!!
Para mim pelo menos. Criança pequena e louca por chocolates, achava aquele um presente dos deuses. Sei que o irmão mais velho ganhou uma caixa e guardou no armário dele. Nem lembro se tava guardada a muito tempo, sei que descobri e fui roubando um, depois outro, depois mais outro. Não sei também o tamanho do furto, o bastante para mim ficar preocupada e arrependida. Sei que ele chegou e viu o crime. Perguntou a todos quem tinha pegado. Eu com aquela cara de santa, fazendo de desentendida. Tornou a perguntar para mim e meu outro irmão. Novamente a negativa, já me mostrando ofendida. Então ele falou que tava preocupado, porque ele havia posto veneno nos bombons para fazer uma experiência e que quem comesse os bombons ia morrer. Não foi preciso mais nada...aos gritos e muito choro só pedia pela minha salvação.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Feita por mim

Foi no casamento da minha cunhada que eu realmente entendi o tamanho do orgulho do meu sogro pela neta mais nova. Ele sempre muito fechado mostrou-se outra pessoa, talvez pela felicidade do momento, talvez por ter bebido um tico a mais, ou talvez pelo encanto da bonequinha ainda mais linda no dia de festa. Sei que sempre que ela passava por perto ele fazia questão de mostrá-la para os amigos falando de boca cheia: -Essa é a Juju, a minha netinha linda, a mais nova!!! Eu quase explodia de orgulho carregando aquela coisinha-mais-linda-feita-por-mim nos braços.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

I love fusca

Não era dele o carrinho, era do primo mais velho. E talvez por isso mesmo, o gosto de sentar no carrinho era maior. Girava o volante prum lado e pro outro, fazia barulho com a boquinha(brummm, brummmmm), batia as mãozinhas. Nem sempre sobrava o carrinho para ele, e muito choro teve por isso. Mas quando ele o "dirigia", que felicidade a do menino!!! Hoje o menino crescido até carteira de motorista já tem. E vez ou outra diz que um dia vai ter um fusquinha. Certas paixões nem o tempo consegue destruir...

domingo, 5 de julho de 2009

Mangueira

Não era a única árvore do quintal, mas era a preferida para se subir.
Tinha também um abacateiro, um pé de laranja que parecia limão, uma jabuticabeira ainda pequena e dois de fruta-do-conde. Mas a mangueira era a rainha. Linda, alta, com galhos grossos que davam para sentar. Rainha já meio velhinha, pois seus frutos na maioria das vezes estavam bichados. Mas quando dava pra aproveitar algum...hummm...delícia!!! Docinho!!! Muitas vezes fiquei ali em cima brincando, lendo ou escondendo de alguma travessura. Meu irmão do meio também. Hoje quando vou na casa da minha mãe e olho para ela lá de baixo fico me perguntando como eu conseguia subir. Ou será que foi ela que cresceu???

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Vitrolinha

Não chegou a ser uma surpresa, porque eu já vinha pedindo a um tempo. Surpresa mesmo foi saber que ela não seria só minha. Naquele natal em que ganhei a tão sonhada vitrolinha ganhei junto com ela um vale-pancadas com direito a revide. Porque dividir qualquer coisa com meu irmão do meio naquela época era impossível. Não sei o que se passava na cabeça dos meus pais, não foi a única coisa que nós dividimos. E a gente vivia aos socos e pontapés, brigava por qualquer coisinha e por nada também. Eu mais apanhava que batia...era menor, era menina. Então minha arma era fazer um escândalo. Eu berrava e chorava sem nem ter apanhado. Pena que Almodóvar não me viu atuando...Merecia um Oscar!!!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Anais anais

Alice foi mais uma das tantas funcionárias do lar que passaram por minha casa. Uma das Alices, teve outra que ficou muito tempo comigo. Sei que ela veio indicada por uma agência como diarista e foi ficando. Era grandona, vistosa, viúva e vivia de caso com algum namorado. Era também muito vaidosa, sempre "recomendava" algum produto de beleza que eu prontamente tratava de esquecer. Um dia ela chegou em casa esbaforida e foi logo falando:
-Dona Cráudia, sabia que agora tem até perfume pro cú ficar cheiroso?
-Como assim ,Alice?
-É isso mesmo, dona Cráudia. Anal num é cú? Tava escrito Anais Anais perfume...intão é perfume pro cú.
A mim só restou dar o restinho do original para ela. Mas que merecia o vidro todo, merecia...

Presentes de natal

E como era natal e todo mundo dava presente eu não poderia ficar de fora. Juntava as minhas moedinhas e ia fazer minhas comprinhas no boteco da esquina. Se eu presenteava outras pessoas não sei. Só lembro dos presentes que comprava para minha mãe e para meu pai. Para minha mãe um sabonete, desses de supermercado mesmo, tipo Lux ou similar. Teve um ano que o porquinho tava mais gordo e eu comprei uma saboneteira. Já pra meu pai era um maço de cigarro Minister(santa inocência!!!). E ia para casa toda serelepe embrulhar os "meus presentes"...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Indefectível vestidinho xadrez

Era um vestidinho xadrez como esse da foto. E ele foi tão presente em minha infância que lembro de um cartão de dia das mães que fiz ainda criança , com o desenho dela com olhos muito azuis, cabelos muito amarelos e o vestidinho xadrez rosa. Anos depois, eu bisbilhotando seu armário vi o indefectível vestidinho xadrez pendurado. E fiquei pentelhando a pobre alma, criticando pelos anos de uso daquele pobre vestidinho. Eu nunca mais o vi. E às vezes me pego bisbilhotando novamente seu armário procurando o vestidinho xadrez.

Michael Jackson

A segunda-feira foi um rebuliço só. Meus aluninhos tinham assistido no Fantástico a apresentação do clip de Michael Jackson, Thriller. Só se falava no monstro, as crianças agitadas e assustadas. Alguns com medo ficaram a aula inteira com os olhinhos arregalados e pertinho de mim. Os mais agitados, no recreio inventaram uma brincadeira de monstro em que corriam atrás dos outros com os braços levantados imitando os dançarinos do clip. Teve até quem tentasse dançar desajeitadamente como o próprio. Eu ria da situação e planejava que quando a sala estivesse naquele tumulto, ao invés de gritar pedindo atenção, quase sempre sem conseguir, ia ameaçar que ia chamar o Michael Jackson. E naquela época nem se sabia que ele gostava tanto de menininhos...

domingo, 28 de junho de 2009

Professorinha alemã

A bonequinha colocava todas as bonequinhas e bichinhos de pelúcia enfileirados em cima da cama. Dava a eles papel e lápis e começava a dar sua aulinha do alto dos seus seis anos. Da cozinha ou do quarto ao lado eu ficava escutando ela muito brava, aos gritos:
-LUIZINHA, JÁ MANDEI SENTAR!!!
-CALA A BOCA, MATEUS!!!
-OLHA QUE NÃO VOU REPETIR MAIS!!!
-PRESTATENÇÃO, TURMA!!!!!!!!!!!!!!!
E por aí ia. Eu admirada de tanta braveza naquela minha filha tão doce, já com pena dos bichinhos naquele pequeno campo de concentração com a mini-Hitler no comando. Um dia comento com uma amiga, mãe de uma coleguinha da mesma escola. E para meu espanto ela diz: -A minha faz a mesma coisa. Com certeza elas estão imitando a professora...
Entrei em estado de choque.

Pau de sebo

Meu filho não tinha mais que uns 12 anos. E a imagem que eu guardo daquela festa de Santo Antônio, na cidadezinha do interior (Rio Acima) é a dele subindo e descendo num pau-de-sebo. Ele tentando a todo custo pegar o dinheiro lá em cima. Eu embaixo rezando pra ele não cair. Ele com a roupa toda suja de sebo. Eu pensando que aquela roupa não tinha jeito, ia pro lixo. Ele rindo, se divertindo. Eu gritando pra ele descer. Ele indo cada vez mais alto, mais perto de pegar o prêmio. Eu orgulhosa daquele 'meu' menino forte, sapeca. Ele subindo, subindo, subindo e eu daqui torcendo...vai longe esse menino!

Copo d'água

A diversão era chegar em casa, encher um copo d'água e apostar quem bebia mais rápido. Pro calor que fazia em Governador Valadares, onde passava minhas férias de julho, era moleza! Bebia facinho, muitos. Quanto mais, mais admiração da meninada. Quase sempre saia vencedora da disputa, com a barriga estufada de tanta água e orgulho. E a tia vinha brava e fazia a gente encher os vidros todos e lavar os copos. Era o prêmio...

sábado, 27 de junho de 2009

Suquinho

Eu estudava em escola pública. Pra ser mais exata, no "Grupo Escolar Barão de Macaúbas". Era chique, benhê. Escola pública tinha seu prestígio, ainda... Sei que eu tava no pré-primário (esse blog me deprime. Toda hora entrego a idade), ou sendo mais moderna, 3º período, ou moderníssima, primeira série do 1º grau. Era um dia festivo, não lembro o que. Sei que a gente ganhou um suquinho que vinha numa caixinha triangular e com um canudinho. Muito bacana, mas quando você sugava o canudinho aquela boa impressão ia pro ralo. O gosto era péssimo!!! Eu não queria beber aquilo, nem jogar fora na frente da professora. Então minha "amiguinha" Simone teve uma grande idéia: -Joga pela janela!!! Também vou jogar o meu.
Não pensei duas vezes e arremessei com satisfação. Ao mesmo tempo em que o suquinho voava, a peste da coleguinha gritava para professora o que eu tinha feito...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Rosas vermelhas

Foi a primeira vez que recebi flores...
Era meu aniversário de 15 anos, tinha ido ao cabeleireiro e não tava muito satisfeita com "o penteado" ( a la Glória Pires na novela Cabocla, primeira versão, simtôveiaedaí?). Cheguei em casa puta da vida, com uma queimadura na testa (aguardem post) e me deparo com um buquê gigante de rosas vermelhas. Boca seca, pernas bambas, mãos tremendo, coração disparado vou direto no cartão. Qual dos bonitinhos tinha me mandado aquilo? ÓmeuDeus!!! É hoje que desencalho e...surpresa!!! Depois dos versos românticos a assinatura do único que não poderia ser. Um mala que só tinha sido convidado porque não dava pra convidar os outros 11 moradores daquela república e deixar ele de fora. Maldita educação que minha mãe me deu...e ainda tive que dançar um pedaço da valsa com ele.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Bunda

Eu brincava em frente de casa, ou brigava, não me lembro bem. Mais certo é que brigava com meu irmão do meio. Sei que soltei um "você tem cara de bunda"!!! O castigo veio certo...de molho no quarto e a ameaça de ter a boca lavada com sabão. Hoje quando ligo a tv e vejo as mulheres dançando funk, as letras das músicas tão explícitas me sinto com 1000 anos. Bunda hoje não é palavrão. É adjetivo!!!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Professor Geraldo

Ele chegou na escola e o ano já tinha começado. Não sei em que parte do ano, mas veio para substituir a antiga professora de história e ficou. Era diferente, talvez por querer ganhar a simpatia daquela turma de adolescentes pouco amigáveis, talvez por ser um professor interessado em ensinar. Era de outra cidade ou de outro estado, tinha um sotaque diferente. Chegou reunindo a turma na quadra para tirar retratos, gostava de registrar seus alunos.
Sei que um dia ele me chamou lá na frente de toda a sala e me deu um bombom por eu ter tirado a maior nota da sala. Corei de felicidade, de orgulho, de prazer, de satisfação...e de muita vergonha!!!
Por anos eu encontrei com ele pelas ruas do meu bairro. Depois sumiu, não sei que fim tomou. Mas para mim ficou como meu professor preferido. O que um bombom não faz na vida de uma gordinha...

Boa samaritana

A verdade é que eu tava de saco cheio do "amor-bandido" aprontar todas e mais algumas com a minha cara. Eu queria namorar alguém legal, bem diferente do outro. Foi assim que meu marido entrou na minha vida. Era uma quinta-feira de noite, eu tava de bobeira na casa da Helô e ele chegou lá também com o irmão dela. Eu joguei todo o charme do mundo!!! Tinha um diário da Claudinha, irmã da Helô em cima da mesa e eu falei que era meu, que se ele lesse saberia de todos os meus segredos (detalhe:o diário tava em branco)e naquela brincadeirinha de me dá não dou, vou ler não vai, rolou uma paquerinha, mas ele logo saiu com o Marco Aurélio. Eu e Helô lóóóógico que fomos atrás deles, mas não achamos. Voltamos pro nosso bairro e paramos num bar que era o ponto de encontro da turma. Assim que entrei vi que ele tava lá e ficamos um olhando pro outro mas fingindo que não, sabe como é, né? Pura perda de tempo...mas tão gostoso!!! Sei que lá prás tantas o Marco Aurélio veio com uma conversa que o Bill (era o apelido do marido na época) só daria uma carona pra eles se eu fosse junto também. Como boa samaritana que sou, aceitei fazer o sacrifício. Ele tinha um carro tipo picape e os meninos foram lá atrás. Sei que quando ele foi me deixar em casa veio me dar beijinhos no rosto pra se despedir e eu roubei um beijinho na boca. Beijinho não, um selinho mesmo e só. E foi assim que começou o romance...

Gira-gira

Era um brinquedo disputadíssimo na escolinha em que eu estudava. Ainda mais num dia em que se comemorava a vitória do Brasil na copa. A gente rodava enlouquecidamente, perigosamente, enquanto cantava aos berros a musiquinha:
"Somos milhões em ação
Pra frente Brasil, no meu coração
Todos juntos, vamos pra frente Brasil
Salve a seleção!!!
De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão!
Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração!
Todos juntos vamos pra frente Brasil!
Salve a seleção!
Todos juntos vamos pra frente Brasil!
Salve a seleção!
Salve a seleção!
Salve a seleção!
Salve a seleção!"
Eu só tinha 5 anos. Eu fiquei com muito medo do brinquedo cair. Eu gritei muito alto aquela música. Eu fiquei muito suada, muito cansada. Eu não deixei ninguém entrar no meu lugar naquele dia. Desculpa professora e coleguinhas, mas amanhã essa folia já não ia ser a mesma. O lugar era meu. Aquela copa do mundo era nossa. Pensando bem, essa copa era minha!!!

Helô

Eu mudava de calçada para não ter que passar perto dela. Tinha verdadeira aversão a pessoa. Não sei se era inveja, porque ela era linda demais, "a rainha do bairro", ou se era muito ciúme, porque ela era a melhor amiga da minha melhor amiga.
Sei que um dia ela apareceu na minha casa, no meu aniversário. Conversamos, achei muita cara de pau dela aparecer assim. No dia seguinte nos encontramos na casa dessa melhor amiga e então nos grudamos feito chiclete no cabelo. Aonde uma ia a outra estava também. Foi a irmã que não tive na minha adolescência e a co-participante de boa parte das besteiras que fiz nessa época. Hoje quase não nos vemos mais, mas guardo ela sempre aqui comigo.

Bicho-papão

Ele é o bicho-papão que anda roubando minhas noites de sono. O bicho-papão da vez, é claro. Um cisto de quase 10 cm que mora no meu rim direito. Inquilino indesejado que não pediu licença para se instalar, mas que pelo menos não é mal-educado e se não fosse por um exame qualquer, eu não saberia que tinha um hóspede. Não se apresentou ainda para o que veio. Tá lá quietinho. Não me fez emagrecer, não me dá dores, não me dá nada, apenas uma preocupação que me tirou o sono e a alegria por esses dias.
Tudo começou ontem com um ultrassom em que foi registrada sua presença...e virou minha vida de ponta-cabeça. Não tenho ido trabalhar, não tenho comido direito, não durmo. Lágrimas descobri que são como o trabalho aqui em casa: não acabam nunca!!! Choro por atender um telefonema amigo, por ver retratos, por ler uma oração na porta do quarto da minha filha que está lá a pelo menos um ano e eu não tinha prestado atenção ainda. Choro por meu filho distante, por minha mãe velhinha a quem eu não quero contar a novidade, por meu amor que tava de saída e agora é tão presente. Choro pelo irmão mais velho a quem eu tive necessidade absoluta de contar. Choro pelo projeto adiado, pelo dia maravilhoso e frio, pelo carinho dos amigos tão presentes nessa hora. Choro até pela patroa preocupada. Choro por dor, choro à toa, choro por necessidade. CHORO POR MEDO!!!

Primeira


Quando eu resolvi escrever este blog, o que me moveu foi uma frase que li:
"Se depois que eu morrer quiseram fazer a minha biografia, não há nada mais simples. Ela terá dois dias importantes: o dia em que eu nasci e o dia em que eu morri...Entre um e outro todos os dias são MEUS!" - Fernando Pessoa

Senti uma necessidade enorme de escrever sobre as coisas que já vivi, sobre as minhas estórias. Umas verdadeiras, outras de tanto contadas e recontadas vão ficando diferentes, outras já não sei se são verdadeiras ou não, mas estão a tanto tempo comigo que se tornaram minhas. Não haverá regras de tempo, de importância, de nada...apenas o que der vontade de ir contando. São minhas as minhas estórias, como são meus esses meus dias. É o que tenho de verdade para mim...