domingo, 28 de junho de 2009

Professorinha alemã

A bonequinha colocava todas as bonequinhas e bichinhos de pelúcia enfileirados em cima da cama. Dava a eles papel e lápis e começava a dar sua aulinha do alto dos seus seis anos. Da cozinha ou do quarto ao lado eu ficava escutando ela muito brava, aos gritos:
-LUIZINHA, JÁ MANDEI SENTAR!!!
-CALA A BOCA, MATEUS!!!
-OLHA QUE NÃO VOU REPETIR MAIS!!!
-PRESTATENÇÃO, TURMA!!!!!!!!!!!!!!!
E por aí ia. Eu admirada de tanta braveza naquela minha filha tão doce, já com pena dos bichinhos naquele pequeno campo de concentração com a mini-Hitler no comando. Um dia comento com uma amiga, mãe de uma coleguinha da mesma escola. E para meu espanto ela diz: -A minha faz a mesma coisa. Com certeza elas estão imitando a professora...
Entrei em estado de choque.

Pau de sebo

Meu filho não tinha mais que uns 12 anos. E a imagem que eu guardo daquela festa de Santo Antônio, na cidadezinha do interior (Rio Acima) é a dele subindo e descendo num pau-de-sebo. Ele tentando a todo custo pegar o dinheiro lá em cima. Eu embaixo rezando pra ele não cair. Ele com a roupa toda suja de sebo. Eu pensando que aquela roupa não tinha jeito, ia pro lixo. Ele rindo, se divertindo. Eu gritando pra ele descer. Ele indo cada vez mais alto, mais perto de pegar o prêmio. Eu orgulhosa daquele 'meu' menino forte, sapeca. Ele subindo, subindo, subindo e eu daqui torcendo...vai longe esse menino!

Copo d'água

A diversão era chegar em casa, encher um copo d'água e apostar quem bebia mais rápido. Pro calor que fazia em Governador Valadares, onde passava minhas férias de julho, era moleza! Bebia facinho, muitos. Quanto mais, mais admiração da meninada. Quase sempre saia vencedora da disputa, com a barriga estufada de tanta água e orgulho. E a tia vinha brava e fazia a gente encher os vidros todos e lavar os copos. Era o prêmio...

sábado, 27 de junho de 2009

Suquinho

Eu estudava em escola pública. Pra ser mais exata, no "Grupo Escolar Barão de Macaúbas". Era chique, benhê. Escola pública tinha seu prestígio, ainda... Sei que eu tava no pré-primário (esse blog me deprime. Toda hora entrego a idade), ou sendo mais moderna, 3º período, ou moderníssima, primeira série do 1º grau. Era um dia festivo, não lembro o que. Sei que a gente ganhou um suquinho que vinha numa caixinha triangular e com um canudinho. Muito bacana, mas quando você sugava o canudinho aquela boa impressão ia pro ralo. O gosto era péssimo!!! Eu não queria beber aquilo, nem jogar fora na frente da professora. Então minha "amiguinha" Simone teve uma grande idéia: -Joga pela janela!!! Também vou jogar o meu.
Não pensei duas vezes e arremessei com satisfação. Ao mesmo tempo em que o suquinho voava, a peste da coleguinha gritava para professora o que eu tinha feito...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Rosas vermelhas

Foi a primeira vez que recebi flores...
Era meu aniversário de 15 anos, tinha ido ao cabeleireiro e não tava muito satisfeita com "o penteado" ( a la Glória Pires na novela Cabocla, primeira versão, simtôveiaedaí?). Cheguei em casa puta da vida, com uma queimadura na testa (aguardem post) e me deparo com um buquê gigante de rosas vermelhas. Boca seca, pernas bambas, mãos tremendo, coração disparado vou direto no cartão. Qual dos bonitinhos tinha me mandado aquilo? ÓmeuDeus!!! É hoje que desencalho e...surpresa!!! Depois dos versos românticos a assinatura do único que não poderia ser. Um mala que só tinha sido convidado porque não dava pra convidar os outros 11 moradores daquela república e deixar ele de fora. Maldita educação que minha mãe me deu...e ainda tive que dançar um pedaço da valsa com ele.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Bunda

Eu brincava em frente de casa, ou brigava, não me lembro bem. Mais certo é que brigava com meu irmão do meio. Sei que soltei um "você tem cara de bunda"!!! O castigo veio certo...de molho no quarto e a ameaça de ter a boca lavada com sabão. Hoje quando ligo a tv e vejo as mulheres dançando funk, as letras das músicas tão explícitas me sinto com 1000 anos. Bunda hoje não é palavrão. É adjetivo!!!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Professor Geraldo

Ele chegou na escola e o ano já tinha começado. Não sei em que parte do ano, mas veio para substituir a antiga professora de história e ficou. Era diferente, talvez por querer ganhar a simpatia daquela turma de adolescentes pouco amigáveis, talvez por ser um professor interessado em ensinar. Era de outra cidade ou de outro estado, tinha um sotaque diferente. Chegou reunindo a turma na quadra para tirar retratos, gostava de registrar seus alunos.
Sei que um dia ele me chamou lá na frente de toda a sala e me deu um bombom por eu ter tirado a maior nota da sala. Corei de felicidade, de orgulho, de prazer, de satisfação...e de muita vergonha!!!
Por anos eu encontrei com ele pelas ruas do meu bairro. Depois sumiu, não sei que fim tomou. Mas para mim ficou como meu professor preferido. O que um bombom não faz na vida de uma gordinha...

Boa samaritana

A verdade é que eu tava de saco cheio do "amor-bandido" aprontar todas e mais algumas com a minha cara. Eu queria namorar alguém legal, bem diferente do outro. Foi assim que meu marido entrou na minha vida. Era uma quinta-feira de noite, eu tava de bobeira na casa da Helô e ele chegou lá também com o irmão dela. Eu joguei todo o charme do mundo!!! Tinha um diário da Claudinha, irmã da Helô em cima da mesa e eu falei que era meu, que se ele lesse saberia de todos os meus segredos (detalhe:o diário tava em branco)e naquela brincadeirinha de me dá não dou, vou ler não vai, rolou uma paquerinha, mas ele logo saiu com o Marco Aurélio. Eu e Helô lóóóógico que fomos atrás deles, mas não achamos. Voltamos pro nosso bairro e paramos num bar que era o ponto de encontro da turma. Assim que entrei vi que ele tava lá e ficamos um olhando pro outro mas fingindo que não, sabe como é, né? Pura perda de tempo...mas tão gostoso!!! Sei que lá prás tantas o Marco Aurélio veio com uma conversa que o Bill (era o apelido do marido na época) só daria uma carona pra eles se eu fosse junto também. Como boa samaritana que sou, aceitei fazer o sacrifício. Ele tinha um carro tipo picape e os meninos foram lá atrás. Sei que quando ele foi me deixar em casa veio me dar beijinhos no rosto pra se despedir e eu roubei um beijinho na boca. Beijinho não, um selinho mesmo e só. E foi assim que começou o romance...

Gira-gira

Era um brinquedo disputadíssimo na escolinha em que eu estudava. Ainda mais num dia em que se comemorava a vitória do Brasil na copa. A gente rodava enlouquecidamente, perigosamente, enquanto cantava aos berros a musiquinha:
"Somos milhões em ação
Pra frente Brasil, no meu coração
Todos juntos, vamos pra frente Brasil
Salve a seleção!!!
De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão!
Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração!
Todos juntos vamos pra frente Brasil!
Salve a seleção!
Todos juntos vamos pra frente Brasil!
Salve a seleção!
Salve a seleção!
Salve a seleção!
Salve a seleção!"
Eu só tinha 5 anos. Eu fiquei com muito medo do brinquedo cair. Eu gritei muito alto aquela música. Eu fiquei muito suada, muito cansada. Eu não deixei ninguém entrar no meu lugar naquele dia. Desculpa professora e coleguinhas, mas amanhã essa folia já não ia ser a mesma. O lugar era meu. Aquela copa do mundo era nossa. Pensando bem, essa copa era minha!!!

Helô

Eu mudava de calçada para não ter que passar perto dela. Tinha verdadeira aversão a pessoa. Não sei se era inveja, porque ela era linda demais, "a rainha do bairro", ou se era muito ciúme, porque ela era a melhor amiga da minha melhor amiga.
Sei que um dia ela apareceu na minha casa, no meu aniversário. Conversamos, achei muita cara de pau dela aparecer assim. No dia seguinte nos encontramos na casa dessa melhor amiga e então nos grudamos feito chiclete no cabelo. Aonde uma ia a outra estava também. Foi a irmã que não tive na minha adolescência e a co-participante de boa parte das besteiras que fiz nessa época. Hoje quase não nos vemos mais, mas guardo ela sempre aqui comigo.

Bicho-papão

Ele é o bicho-papão que anda roubando minhas noites de sono. O bicho-papão da vez, é claro. Um cisto de quase 10 cm que mora no meu rim direito. Inquilino indesejado que não pediu licença para se instalar, mas que pelo menos não é mal-educado e se não fosse por um exame qualquer, eu não saberia que tinha um hóspede. Não se apresentou ainda para o que veio. Tá lá quietinho. Não me fez emagrecer, não me dá dores, não me dá nada, apenas uma preocupação que me tirou o sono e a alegria por esses dias.
Tudo começou ontem com um ultrassom em que foi registrada sua presença...e virou minha vida de ponta-cabeça. Não tenho ido trabalhar, não tenho comido direito, não durmo. Lágrimas descobri que são como o trabalho aqui em casa: não acabam nunca!!! Choro por atender um telefonema amigo, por ver retratos, por ler uma oração na porta do quarto da minha filha que está lá a pelo menos um ano e eu não tinha prestado atenção ainda. Choro por meu filho distante, por minha mãe velhinha a quem eu não quero contar a novidade, por meu amor que tava de saída e agora é tão presente. Choro pelo irmão mais velho a quem eu tive necessidade absoluta de contar. Choro pelo projeto adiado, pelo dia maravilhoso e frio, pelo carinho dos amigos tão presentes nessa hora. Choro até pela patroa preocupada. Choro por dor, choro à toa, choro por necessidade. CHORO POR MEDO!!!

Primeira


Quando eu resolvi escrever este blog, o que me moveu foi uma frase que li:
"Se depois que eu morrer quiseram fazer a minha biografia, não há nada mais simples. Ela terá dois dias importantes: o dia em que eu nasci e o dia em que eu morri...Entre um e outro todos os dias são MEUS!" - Fernando Pessoa

Senti uma necessidade enorme de escrever sobre as coisas que já vivi, sobre as minhas estórias. Umas verdadeiras, outras de tanto contadas e recontadas vão ficando diferentes, outras já não sei se são verdadeiras ou não, mas estão a tanto tempo comigo que se tornaram minhas. Não haverá regras de tempo, de importância, de nada...apenas o que der vontade de ir contando. São minhas as minhas estórias, como são meus esses meus dias. É o que tenho de verdade para mim...