domingo, 30 de agosto de 2009

Tia Diva

Ontem morreu minha tia Diva, irmã do meu pai. Era a irmã mais velha, que se casou velha e não teve filhos. Era seca, dura e feia. Muito feia. Tinha uns dentes grandes e quando pequena eu tinha medo dela e do marido, Tio Zé, que era totalmente careca. Não tenho boas lembranças dessa tia, aliás quase não tenho lembranças. Sei que ia por obrigação nos encontros familiares e ia embora muito cedo. Passava como um furacão. Não cultivou o amor dos sobrinhos e morreu sozinha, quase não tinha ninguém no seu velório. Quando eu era bem pequena acho que tinha uns almoços em sua casa (talvez tenha sido só um) e o marido dela era fotógrafo e tirava umas fotos da gente. Acho que tinha um apartamento em Guarapari e sei que quando estávamos em Setiba, fomos lá. Uma vez também fui com meu pai na casa dela, eu fiquei arrancando uma pedrinhas do muro e mais não lembro. Não lembro de receber nenhum presente dela, nenhum carinho, nenhum telefonema. No meu casamento não foi. Mandou dizer que tinha sido convidada para um outro casamento antes.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Miguel Bournier

Minha irmã de criação tinha mãe e pai. Que eram tios do meu pai. Então minha irmã de criação era na verdade minha prima. E quando eu era pequena os pais dela moravam numa cidadezica chamada Miguel Bournier. A cidade era tão pequena que só tinha mesmo duas ruas e uma estação de trem. No alto tinha uma igrejinha e uma farmácia. Perto da linha de trem tinha uns dois bares e só. Mas eu gostava de ir prá lá, era uma vida tão diferente. Eu acordava cedo e tomava leite com pão torrado no fogão a lenha. O pão era de pacote, sovado porque lá não tinha padaria. Pão sovado pra mim era uma novidade, e eu achava que só lá é que tinha. O almoço era às 10:30 da manhã. Depois tinha um outro café no meio da tarde tarde e 17:00 era a janta. Tudo feito no fogão a lenha, um gosto bom que eu não me esqueço. A tia fazendo todas as vontades... A casa velha, chão de tábuas que rangiam. As camas de madeira, colchão de palha. O banho na banheira que de tão velha tinha o esmalte já preto no fundo. E o banho era de cuia, eu achava aquilo o máximo. De manhã cedinho eu saia com uma menina vizinha para catar moranguinhos silvestres no mato. E depois a gente fugia escondido para a linha de trem para ficar andando nos trilhos. Era proibido!